Os textos que publico aqui refletem visões, experiências ou situações vividas por mim, por meus parceiros e por clientes e amigos escritores.
Espero que sejam úteis para você, em seu caminho criativo.
Técnicas para escrever um conto irresistivelmente arrebatador
Sem dúvida, escrever é muito prazeroso. Mas e quando há uma proposta em jogo e é preciso entender as suas regras? No caso, se você for desafiada a escrever um conto interessante para atrair um leitor americano, saberia como proceder? Conhece as técnicas para escrever um conto irresistivelmente arrebatador? Vou lhe dar algumas pequenas dicas que garantem o sucesso de qualquer conto.
Um bom conto deve:
Ter um único fio narrativo. Como o espaço de um conto é limitado – talvez pouco mais do que 1000 a 2000 palavras – não há espaço para explorar as histórias de vários personagens ou mostrar como os personagens principais reagem em diferentes ambientes. Estabeleça uma linha de história e não desvie do mesmo. Alguns exemplos: Helena planeja uma vingança contra a mulher que roubou o seu emprego; Camila decide se fica ou não com a carteira que encontrou na rua; Ricardo enfrenta o seu arqui-rival numa competição de moto de vida ou morte. Se você começar a ampliar a trama de sua história – talvez focalizando as vidas de todos os competidores da corrida de moto de Ricardo – então, você está escrevendo uma novela ou romance. Qualquer conto com mais do que 4000 palavras é difícil de vender. Qualquer texto com mais do que 6000 palavras é, definitivamente, uma novela.
Um espaço temporal curto. Um conto é como uma foto – é um instante congelado no tempo. Faz um check-up de como um personagem lida com fatos em um período particularmente difícil ou traumático de sua vida. Não lida com a história de sua vida ou o estudo de um personagem ou a crônica de suas várias aventuras. Os melhores contos têm um foco restrito – uma linha de história cobrindo não mais do que alguns dias. As histórias mais envolventes cobrem eventos que atingem seu herói em poucas horas cruciais. Um único estado de espírito, ritmo e estilo. Um conto deve produzir o mesmo sentimento ao longo da narrativa. Não deve iniciar como um conto emocionalmente recheado de sofrimento para acabar descambando para um tom de comédia explícita. Não deve acelerar ou diminuir o seu ritmo de forma oscilante ou passar de um estilo seco, com sentenças cortantes e um vocabulário simples para uma prosa ininterrupta, langorosa, destilando expressões barrocas e imagens hiperbólicas. No momento em que você muda a direção ou o tom que está sendo adotado, você provoca um tranco em seu leitor.
Descrições breves. Um conto não é o espaço para exibir suas habilidades descritivas. Descrições extensas matam o ritmo e desviam a atenção do leitor da trama. Você deve sempre ter como objetivo alcançar o máximo de efeito com o mínimo de palavras. Você pode preencher uma página descrevendo cada aspecto da aparência de uma mulher de idade, mas a única informação útil que você terá dado ao leitor é que a mulher é idosa. Ou seja, você poderia atingir o mesmo efeito em seis palavras: Edite tem ondas prateadas no cabelos. O mínimo de informações secundárias. Nós vamos gastar aproximadamente cinco minutos com os personagens de um conto – não casar com eles ou lhes delegar a responsabilidade de investir todas as economias de nossas vidas – assim, não é necessário saber tudo sobre eles. Apenas forneça as informações secundárias que forem relevantes`à trama. Se a estória for sobre as lutas e vitórias de John com o fim de seu casamento, o fato de ele ter feito seis tentativas para obter suas medalhas de natação nos 100 metros ou ser alérgico a amendoim não é importante. O truque é manter um bom balanço e fornecer informações concisas e fatos relevantes suficientes sobre um personagem, de maneira que o leitor consiga visualizá-lo.
O mínimo de personagens. Quatro personagens ou menos. Não há tempo nem espaço em um conto para encontrar um batalhão de novos rostos e memorizar cada personagem e seu grau de parentesco ou envolvimento com outros personagens. Pense como é difícil lembrar de todos os nomes das pessoas a quem você é apresentado em uma festa. Dois é um número ideal de personagens para um breve conto – permite que você use diálogos de como eles conversam e reagem um ao outro. Três é excelente para contos explorando o eterno triângulo amoroso, mas quatro é realmente o limite
Sem enredos paralelos, moral camuflada ou subtemas. Simplifique. Conte a estória da forma mais direta possível e não tente ser tão brilhante ou intelectual. O enredo é de suprema importância; assim, não permita que nada interfira na forma ligeira e uniforme que se recomenda narrar a história. Esse desvio poderá acontecer se sua escrita falar em vários diferentes níveis e revelar toda sorte de verdades ao leitor. Se isso acontecer, ótimo. Mas não se esforce para isso, deliberadamente. Deixe que isso aconteça naturalmente. Não faça de seu texto uma lição de moral. Não use simbolismos. Não estabeleça que tudo tenha que ser significativo e profundo – as chances são de que você termine com um conto cheio de significados que ninguém quer ler.
Nada de ficar criando um cenário ultra elaborado e redundante. As razões mais comuns por que alguns contos não prendem o leitor é que os escritores gastam aquelas preciosas linhas iniciais montando o cenário. Ao invés de narrar a história, ficam se prendendo a descrições desnecessárias sobre o tempo, a cidade em que a história ocorre, ou o estado de humor do personagem principal, sua aparência ou seu histórico familiar. Vá direto à trama em sua primeira frase. Também saiba estabelecer quando a sua história chegou ao seu fim. Termine-a tão rapidamente assim que o conflito de seu personagem for resolvido. Não deixe se arrastar sem rumo por vários parágrafos extras, até se esgotar num sopro. Assim como uma boa piada, um conto tem que ter um final arrebatador.
Diálogos tensos e cortantes. Não há como justificar aquele título atraente e arrebatar a atenção de seu leitor se toda vez que seu personagem principal fala, dá vontade de bocejar. Diálogos devem ter ritmo veloz, excitante e dramático. São uma ótima maneira de injetar emoção em uma estória. Ajudam a criar estados de humor e tensão. Crie diálogos concisos, que sejam apenas um flash (recorte sonoro) da realidade, e sirvam tão-somente para dar vida ou caracterizar de forma peculiar os personagens – não prosaicos bate-papos. Sequer considere escrever uma história que não contenha diálogos. Será um desvio garantido para o sucesso que almeja
O menor número de pontos de vista quanto possível. Um bom conto deve relatar o que acontece ao seu personagem principal ao enfrentar uma certa quantidade de eventos. E nós devemos enxergar esses eventos através de seus olhos – e somente através deles. Se começarmos a ver a ação pela perspectiva de outro personagem, não está sendo eficaz. Além de ser potencialmente confuso, isso distancia o leitor do herói – quebrando o vínculo de empatia. Quando uma estória funciona bem, normalmente tem um único ponto de vista, através do qual o leitor imagina a si próprio como herói. Somente troque de ponto de vista quando isso for absolutamente vital para o enredo e nunca mais do que uma vez, no conto.
Dicas de James McSill, tradução e adaptação de Kyanja Lee.
Espero que sejam úteis para você, em seu caminho criativo.
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- Experiência inusitada: encontro em Las Vegas – por James Mcsill
- Como Desenvolver a Sua Percepção de Leitura Crítica - por Kyanja Lee
- Por que é que a gente é assim? - por Isabel Campos (reproduzido sob permissão)
Técnicas para escrever um conto irresistivelmente arrebatador
Sem dúvida, escrever é muito prazeroso. Mas e quando há uma proposta em jogo e é preciso entender as suas regras? No caso, se você for desafiada a escrever um conto interessante para atrair um leitor americano, saberia como proceder? Conhece as técnicas para escrever um conto irresistivelmente arrebatador? Vou lhe dar algumas pequenas dicas que garantem o sucesso de qualquer conto.
Um bom conto deve:
Ter um único fio narrativo. Como o espaço de um conto é limitado – talvez pouco mais do que 1000 a 2000 palavras – não há espaço para explorar as histórias de vários personagens ou mostrar como os personagens principais reagem em diferentes ambientes. Estabeleça uma linha de história e não desvie do mesmo. Alguns exemplos: Helena planeja uma vingança contra a mulher que roubou o seu emprego; Camila decide se fica ou não com a carteira que encontrou na rua; Ricardo enfrenta o seu arqui-rival numa competição de moto de vida ou morte. Se você começar a ampliar a trama de sua história – talvez focalizando as vidas de todos os competidores da corrida de moto de Ricardo – então, você está escrevendo uma novela ou romance. Qualquer conto com mais do que 4000 palavras é difícil de vender. Qualquer texto com mais do que 6000 palavras é, definitivamente, uma novela.
Um espaço temporal curto. Um conto é como uma foto – é um instante congelado no tempo. Faz um check-up de como um personagem lida com fatos em um período particularmente difícil ou traumático de sua vida. Não lida com a história de sua vida ou o estudo de um personagem ou a crônica de suas várias aventuras. Os melhores contos têm um foco restrito – uma linha de história cobrindo não mais do que alguns dias. As histórias mais envolventes cobrem eventos que atingem seu herói em poucas horas cruciais. Um único estado de espírito, ritmo e estilo. Um conto deve produzir o mesmo sentimento ao longo da narrativa. Não deve iniciar como um conto emocionalmente recheado de sofrimento para acabar descambando para um tom de comédia explícita. Não deve acelerar ou diminuir o seu ritmo de forma oscilante ou passar de um estilo seco, com sentenças cortantes e um vocabulário simples para uma prosa ininterrupta, langorosa, destilando expressões barrocas e imagens hiperbólicas. No momento em que você muda a direção ou o tom que está sendo adotado, você provoca um tranco em seu leitor.
Descrições breves. Um conto não é o espaço para exibir suas habilidades descritivas. Descrições extensas matam o ritmo e desviam a atenção do leitor da trama. Você deve sempre ter como objetivo alcançar o máximo de efeito com o mínimo de palavras. Você pode preencher uma página descrevendo cada aspecto da aparência de uma mulher de idade, mas a única informação útil que você terá dado ao leitor é que a mulher é idosa. Ou seja, você poderia atingir o mesmo efeito em seis palavras: Edite tem ondas prateadas no cabelos. O mínimo de informações secundárias. Nós vamos gastar aproximadamente cinco minutos com os personagens de um conto – não casar com eles ou lhes delegar a responsabilidade de investir todas as economias de nossas vidas – assim, não é necessário saber tudo sobre eles. Apenas forneça as informações secundárias que forem relevantes`à trama. Se a estória for sobre as lutas e vitórias de John com o fim de seu casamento, o fato de ele ter feito seis tentativas para obter suas medalhas de natação nos 100 metros ou ser alérgico a amendoim não é importante. O truque é manter um bom balanço e fornecer informações concisas e fatos relevantes suficientes sobre um personagem, de maneira que o leitor consiga visualizá-lo.
O mínimo de personagens. Quatro personagens ou menos. Não há tempo nem espaço em um conto para encontrar um batalhão de novos rostos e memorizar cada personagem e seu grau de parentesco ou envolvimento com outros personagens. Pense como é difícil lembrar de todos os nomes das pessoas a quem você é apresentado em uma festa. Dois é um número ideal de personagens para um breve conto – permite que você use diálogos de como eles conversam e reagem um ao outro. Três é excelente para contos explorando o eterno triângulo amoroso, mas quatro é realmente o limite
Sem enredos paralelos, moral camuflada ou subtemas. Simplifique. Conte a estória da forma mais direta possível e não tente ser tão brilhante ou intelectual. O enredo é de suprema importância; assim, não permita que nada interfira na forma ligeira e uniforme que se recomenda narrar a história. Esse desvio poderá acontecer se sua escrita falar em vários diferentes níveis e revelar toda sorte de verdades ao leitor. Se isso acontecer, ótimo. Mas não se esforce para isso, deliberadamente. Deixe que isso aconteça naturalmente. Não faça de seu texto uma lição de moral. Não use simbolismos. Não estabeleça que tudo tenha que ser significativo e profundo – as chances são de que você termine com um conto cheio de significados que ninguém quer ler.
Nada de ficar criando um cenário ultra elaborado e redundante. As razões mais comuns por que alguns contos não prendem o leitor é que os escritores gastam aquelas preciosas linhas iniciais montando o cenário. Ao invés de narrar a história, ficam se prendendo a descrições desnecessárias sobre o tempo, a cidade em que a história ocorre, ou o estado de humor do personagem principal, sua aparência ou seu histórico familiar. Vá direto à trama em sua primeira frase. Também saiba estabelecer quando a sua história chegou ao seu fim. Termine-a tão rapidamente assim que o conflito de seu personagem for resolvido. Não deixe se arrastar sem rumo por vários parágrafos extras, até se esgotar num sopro. Assim como uma boa piada, um conto tem que ter um final arrebatador.
Diálogos tensos e cortantes. Não há como justificar aquele título atraente e arrebatar a atenção de seu leitor se toda vez que seu personagem principal fala, dá vontade de bocejar. Diálogos devem ter ritmo veloz, excitante e dramático. São uma ótima maneira de injetar emoção em uma estória. Ajudam a criar estados de humor e tensão. Crie diálogos concisos, que sejam apenas um flash (recorte sonoro) da realidade, e sirvam tão-somente para dar vida ou caracterizar de forma peculiar os personagens – não prosaicos bate-papos. Sequer considere escrever uma história que não contenha diálogos. Será um desvio garantido para o sucesso que almeja
O menor número de pontos de vista quanto possível. Um bom conto deve relatar o que acontece ao seu personagem principal ao enfrentar uma certa quantidade de eventos. E nós devemos enxergar esses eventos através de seus olhos – e somente através deles. Se começarmos a ver a ação pela perspectiva de outro personagem, não está sendo eficaz. Além de ser potencialmente confuso, isso distancia o leitor do herói – quebrando o vínculo de empatia. Quando uma estória funciona bem, normalmente tem um único ponto de vista, através do qual o leitor imagina a si próprio como herói. Somente troque de ponto de vista quando isso for absolutamente vital para o enredo e nunca mais do que uma vez, no conto.
Dicas de James McSill, tradução e adaptação de Kyanja Lee.